por Joana Felício
Fechou os olhos e absorveu os
sons, os cheiros e os sabores que decoravam o salão. A mesa à sua frente,
coberta de todas as comidas, era rodeada pelos seus amigos, a sua nobreza e, ao
seu lado, a mais bela das rainhas, a tez pura e o espírito limpo, emanando uma
aura de felicidade e amor com cheiro a rosas. Pela janela, conseguia ouvir o outono a passar,
voando com as flores que fugiam da terra que as prendia. Sobrevoariam juntos os
mares e retornariam a Portugal com as novas do mundo.
Entrou então um homem alto,
acompanhado de um rapazinho saltitante e expectante, com uma viola na mão, jovem
e firme. Instalaram-se no centro da sala, virados para o Rei, e, durante um
minuto, nenhum outro som se fez ouvir à canção que se juntava à melodia tocada
pela viola do rapaz, uma tapeçaria uniforme e elegante que ninguém se atrevia a
difamar:
-Ai flores, ai flores do verde pino,
se sabedes novas do meu amigo!
Ai Deus, e u é?
Ai, flores, ai flores do verde ramo,
se sabedes novas do meu amado!
Ai Deus, e u é?
Se sabedes novas do meu amigo,
aquel que mentiu do que pos comigo!
Ai Deus, e u é?
Se sabedes novas do meu amado
aquel que mentiu do que mi ha jurado!
Ai Deus, e u é?
-Vós me preguntades polo voss'amigo,
e eu ben vos digo que é san'e vivo.
Ai Deus, e u é?
Vós me preguntades polo voss'amado,
e eu ben vos digo que é viv'e sano.
Ai Deus, e u é?
E eu ben vos digo que é san'e vivo
e seerá vosc'ant'o prazo saído.
Ai Deus, e u é?
E eu ben vos digo que é viv'e sano
e seerá vosc'ant'o prazo passado.
Ai Deus, e u é?
se sabedes novas do meu amigo!
Ai Deus, e u é?
Ai, flores, ai flores do verde ramo,
se sabedes novas do meu amado!
Ai Deus, e u é?
Se sabedes novas do meu amigo,
aquel que mentiu do que pos comigo!
Ai Deus, e u é?
Se sabedes novas do meu amado
aquel que mentiu do que mi ha jurado!
Ai Deus, e u é?
-Vós me preguntades polo voss'amigo,
e eu ben vos digo que é san'e vivo.
Ai Deus, e u é?
Vós me preguntades polo voss'amado,
e eu ben vos digo que é viv'e sano.
Ai Deus, e u é?
E eu ben vos digo que é san'e vivo
e seerá vosc'ant'o prazo saído.
Ai Deus, e u é?
E eu ben vos digo que é viv'e sano
e seerá vosc'ant'o prazo passado.
Ai Deus, e u é?
Conseguia
ver as imagens que se desenrolavam na sua mente, a bela rapariga que perguntava
às flores pelo seu amigo, o amor que a rodeava, as cores que pintariam aquele
quadro, se alguma vez fosse posto numa tela.
Foi
assim que, imaginando aquele momento, imaginou as suas próximas canções.
Intérprete: Barahúnda; Canto: Helena de Alfonso (2002, Madrid)
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