Reza a lenda que Ulisses, o herói da Odisseia de Homero, teria aportado nas margens do estuário do Tejo e que teria batizado esse lugar com o topónimo derivado do seu nome, Olissipo, e que deste derivaria a palavra Lisboa. Porém, segundo os linguistas, as raízes da palavra Lisboa são bem mais complexas e ilustram que as palavras e a formação das línguas resultam de processos de aculturação multilinguísticos híbridos, que se dão através da fala.
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Painel de azulejos do século XVII, com a panorâmica de Lisboa anterior ao terramoto de 1755.
Uma preciosidade que pode ser admirada no Museu do Azulejo em Lisboa. |
Muitos termos que integram o vocabulário Português como Lisboa apresentam vestígios linguísticos de vários povos, como uma rocha que se vai formando, por erosão de vários agentes.
A palavra Lisboa, segundo o Dicionário Etimológico de José Pedro Machado, apresenta vestígios de transformações fonéticas e ortográficas que derivam do uso da fala, por influência dos falantes dos vários povos que habitaram a Península Ibérica e que estão na raiz da formação de Portugal. Para saber mais sobre as raízes e a formação da palavra Lisboa, consultar aqui: etimologia de Lisboa.
Na lenda de Ulisses, muitos escritores encontraram inspiração poética para "cantar" Portugal e as suas raízes. No poema que transcrevemos, retirado da obra Mensagem de Fernando Pessoa, Ulisses representa o sonho inspirador da ação dos portugueses:
Ulisses
O mytho é o nada que é tudo.
O mesmo sol que abre os céus
É um mytho brilhante e mudo -
O corpo morto de Deus,
Vivo e desnudo.
Este, que aqui aportou,
Foi por não ser existindo.
Sem existir nos bastou.
Por ão ter vindo foi vindo
E nos criou.
Assim a lenda se escorre
A entrar na realidade,
E a fecunda-la decorre.
Em baixo, a vida, metade
De nada, morre.
Recentemente, a escritora Teolinda Gersão escreveu o livro A Cidade de Ulisses, uma narrativa que nos conduz a uma história de amor que decorre em Lisboa. Um amor que, como qualquer amor verdadeiro, encanta e expande os espaços percorridos pelos amantes. A separação mostra uma outra realidade, a realidade nua e crua dos problemas. Contudo, o amor permanece, a desafiar a realidade.