por Joana Felício
A era que atravessamos neste momento é marcada,
sobretudo, pela ignorância do passado, seja ele cultural ou histórico. A
indiferença perante aquilo que nos precedeu é um defeito grave da geração que
agora se forma. Um dos problemas sobre o qual tive a oportunidade de refletir,
quando me foi apresentado o tema deste projeto, foi a língua. O nosso maior
bilhete de identidade, a língua por que lutámos durante séculos com a marca das
nossas raízes e que agora se fragiliza sob o olhar apreensivo dos que a conheceram na sua
forma mais perfeita.
Hoje em dia, os jovens parecem mostrar uma profunda
admiração por aquilo que há lá fora. O mundo é um mar de oportunidades e tudo é
belo, exceto a língua em que cresceram e em que aprenderam a falar. Cada vez
mais se observa um multiculturalismo, mesmo dentro de cada indivíduo, o que, não
sendo necessariamente uma coisa negativa, é algo que devemos sempre ter em
atenção. É uma evolução que está a roubar à nossa língua aquilo que tinha de nosso.
É claro que todos nós devemos compreender que uma língua,
um idioma foi feito para evoluir, mudar, ajudar a criar uma identidade nacional
que se funde com a existência internacional e que, por ser língua viva, está
sempre em constante mudança. Durante os últimos séculos, fomos donos do nosso
ser e, na atualidade, os estrangeirismos exagerados vieram alterar a nossa
condição de portugueses. Eu nasci neste Portugal que é tão nosso quando foi, sou
portuguesa e falo português, mas já não reconheço a língua que consegue
explicar o que é a saudade. Esta
língua já não é minha, se durante tanto tempo os poetas escreveram coleccionar, percepcionar e assumpções, e
agora nos vemos obrigados a falar de coleções, perceções e assunções, como se
um tempo incontável de uma língua estivesse errado, como se outro país nos
desse uma identidade que nós próprios lhe demos há tanto tempo atrás.
Depois de tudo isto, entristece-me saber que as próximas
gerações não conhecerão a língua dos poetas, a língua desconhecida de um mundo
amplo que nunca a chegou a compreender como nós portugueses e que, ainda assim,
se sente na obrigação de a tornar noutra. Quanto custarão 200 anos à língua
portuguesa? Quem sabe como será o português?… Será português sequer?
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